INTRODUÇÃO.
A nova tipologia proposta por Vidler é uma crítica explícita ao movimento moderno. Questiona-se, assim a cidade funcionalista moderna, sua arquitetura padronizada, seus planos em larga escala, suas promessas de eficácia e ordem, suas previsões de um desenvolvimento urbano/social ilimitado, sua vocação determinista e suas pretensões internacionais.
Tal inflexão no pensamento sobre a arquitetura e as cidades é identificada por Anthony Vidler (1976) como “terceira tipologia”, um conceito que expõe sobre bases cristalinas a questão da autonomia da arquitetura reivindicada pelas críticas mais consolidadas ao Movimento Moderno.
Para o autor, esta atitude seria uma primeira tentativa de legitimação da disciplina a partir de sua própria singularidade e auto-formação. O recurso a tipologia edificatória e a morfologia urbana seriam instrumentos para confirmar a especificidade da arquitetura e das cidades enquanto estruturas formais.
Ao contrário das duas “tipologias” racionalistas anteriores - a primeira calcada na crença da ordenação racional da natureza, cujo paradigma seria a cabana primitiva de Laugier, e a segunda relacionada analogicamente com a natureza da máquina – a chamada terceira tipologia teria seu ponto de inflexão na não-recorrência a elementos alheios ao universo arquitetônico para a construção de um discurso.
Para Vidler, o conceito de tipo é indissociável das origens da arquitetura. A terceira tipologia vai buscar inspiração e formas no plano interno, nos padrões físicos da cidade sincrônica. Leva a teoria da arquitetura de volta ao problema da forma. Então, a posição da cidade como origem dos tipos arquitetônicos pós-modernos faz com que as “implicações políticas” e os “significados” não se percam com a transformação das formas urbanas.
Vidler lança o pressusposto que “a adoção não de uma idéia abstrata, nem de uma utopia tecnológica, mas da cidade tradicional como seu foco de interesse. É a cidade que [...] lhe fornecem as bases de sua reorganização.”
A CIDADE É EM SI E POR SI UMA NOVA TIPOLOGIA!
A arquitetura assim não é mais um domínio que precisa estar associado a uma sociedade hipotética para ser imaginado e compreendido. [...] Acaba a necessidade de falar de funções. Costumes sociais, de qualquer outra coisa que esteja além da forma arquitetônica em si.
Ela surge completa e pronta para ser decomposta em fragmentos. Esses fragmentos não reinventam formas típicas institucionais, nem repetem formas tipológicas do passado: são escolhidos e reagrupados de acordo com critérios obtidos em três níveis de significado – o primeiro é o dos significados atribuídos pela existência passada das formas; o segundo decorre da escolha do fragmento específico e de seus limites, os quais muitas vezes cruzam com tipos anteriores; o terceiro provém de uma recomposição desses fragmentos em um novo contexto.
Além do aspecto especificamente formal, é que a cidade, ao contrário da coluna, da casa-cabana ou da máquina útil, é e sempre foi política em sua essência. A fragmentação e recomposição de suas formas espaciais e institucionais jamais deixarão de ter implicações políticas.
INDICAÇÕES E PROGNÓSTICOS
Da perspectiva dessa tipologia, não existem regras claras para transformações e seus objetos, nem um conjunto de precedentes históricos controversamente definidos. Ela recusa toda a nostalgia, rejeita todo ecletismo, filtra resolutamente suas “citações” através das lentes de uma estética modernista.
A associação incondicional da arquitetura com a cidade abre margem para uma interpretação em base essencialmente formal e histórica da disciplina, desacreditando qualquer elemento ou condição alheios a sua natureza. Subentende-se aqui também uma dura crítica ao funcionalismo e ao enfoque positivista em que a disciplina se apoiava até então.
Deposita sua fé no caráter público da arquitetura contra ideias cada vez mais privadas. Nesse movimento, a cidade e a tipologia se reafirmam como as únicas bases possíveis para a restituição de um papel crítico a uma arquitetura que, de outra forma, acabaria sucumbindo ao ciclo aparentemente interminável de produção e consumo.
“Se o inferno do movimento moderno eram os bairros fechados, superlotados e insalubres das velhas cidades industriais, a crítica ao urbanismo moderno, na terceira tipologia, eleva ao nível de princípio o tecido contínuo da cidade,a nítida distinção entre o público e o privado delimitada pelos muros da rua e da praça. Seu pesadelo é o edifício isolado construído no meio de um parque indiferenciado.”
Anthony Vidler
Por se tratar de premissas para a cidade e não uma tipologia arquitetônica propriamente dita, percebemos que era preciso um estudo sobre a história de um determinado local, para depois entendermos as modificações feitas.
Esse entendimento da terceira tipologia proposta por Vidler é uma tarefa difícil e assume duas frentes: a redefinição do domínio público em termos arquitetônicos e a comunicação da sua natureza e do seu potencial a uma nova esfera, dispersa em toda a sua fragmentação.
A fragmentação e a pluralidade do discurso terão seus reflexos diretos nas intervenções urbanas subsequentes, tendo sido a IBA (Internationale Bauausstellung) a primeira oportunidade concreta de reunir e evidenciar tal situação.
Dedicado a transformar Berlim mais uma vez no centro do debate internacional, Paul Josef Kleihues tratará de expor através da IBA o resultado de tanta teorização sobre a arquitetura e as cidades. A inserção do objeto arquitetônico e de pequenos trechos urbanos na cidade existente seria a partir de então o seu grande quebra-cabeças.
O projeto apresentado a seguir, ao nosso entendimento, é o que mais expressa as teorias de Anthony Vidler; os limites claros do espaço público e privado, a separação dos muros da cidade e da praça e, principalmente, a abominação por edifícios isolados em meio a parques indiferenciados.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS:
Hofgarten am Schlossufer Berlin, 2002 | |||||||||||||||
Endereço | Rathausstraße, Spreeufer, Karl-Liebknecht-Straße und Spandauer Straße, Berlin | Arquiteto | Prof. Josef P. Kleihues | ||||||||||||
Uso | Edifícios de escritórios e residenciais | Ano | 2002 | ||||||||||||
Área construída | 89.431 m²
Como podemos perceber, o projeto não foi de fato, construído, porém percebemos que mesmo depois de quase 30 anos de publicação do ensaio, Kleihues ainda se manteve fiel à sua ideologia. A praça, localizada ao centro do projeto, manteve a sua conformação original. O projeto baseia-se no palácio Hofgarten nas margens do tanto a tradição das grandes praças europeias e sobre a história da área Hall Street e os Spandauerstrasse, no rio Spree. O edifício se abre para o jardim do pátio da reconstrução proposta do City Palace Berlin. Além disso, o pátio é fechado e possui quatro grandes entradas. É a partir do espaço urbano envolvente, que o arquiteto se inspirou para desenvolver um relacionamento equilibrado entre a abertura ea blindagem. O pátio era de uso público dos tribunais, e depois da reconstrução da cidade pós queda do muro, se tornou uma mera passagem urbana de passeio.
O ARQUITETO. Paul Josef Kleihues (11 de junho de 1933, Rheine - 13 de agosto de 2004, Berlim) foi um arquiteto alemão, mais conhecido por suas contribuições longas décadas para a "reconstrução crítica" de Berlim. Sua abordagem de design tem sido descrito como "racionalista poética". Em 1979 Josef Paul Kleihues foi nomeado diretor do IBA. Ele organizou a exposição ao longo de dois temas distintos:. IBA Alt teve como objetivo estudar métodos de "renovação urbana cuidado", e Neu IBA para experimentar "reconstrução crítica" Ele convidou muitos arquitetos internacionais, incluindo Peter Eisenman, Gregotti Vittorio, Hertzberger Herman, Hans Hollein, Arata Isozaki, Rob Krier, Aldo Rossi e James Stirling. por conseguinte, o IBA foi chamado pela revista Time "a vitrine mais ambiciosa da arquitetura mundial nesta geração". |
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